Marinha do Brasil

A Marinha do Brasil: Guardiã das Águas

Raul Coelho Barreto Neto

A Marinha do Brasil foi a primeira das nossas Forças Armadas a ingressar na Segunda Guerra Mundial e a última a deixá-la. A corporação, na verdade, terminou tomando parte no conflito por mais tempo do que o próprio país, uma vez que sua campanha, ainda que não oficialmente, se iniciou em 1940, com o patrulhamento Nordestino por belonaves sediadas em Natal, e só terminou no segundo semestre de 1945, depois de assegurado que o Atlântico Sul estava definitivamente livre dos submarinos inimigos.

Este longo período de mobilização pode ser estendido ainda mais, se considerarmos que navios da nossa Esquadra foram deslocados para o Sul no final de 1939, quando da Batalha do Rio da Prata. Tal participação contou basicamente com o mesmo e reduzido efetivo dos tempos de paz, tendo seus militares as férias suspensas e as licenças restringidas. Algumas centenas deles não voltaram para casa. Aliás, foi no mar onde mais brasileiros perderam a vida na guerra, incluindo-se as baixas na nossa Marinha Mercante.

Nossa atuação naval na guerra é nitidamente marcada por duas fases: uma anterior e outra após o auxílio técnico e material oferecido pela Marinha dos EUA. Se no começo contávamos com alguns poucos e obsoletos navios e tripulações despreparadas, após este verdadeiro divisor de águas pudemos atingir um nível de adestramento e profissionalismo nunca antes visto. Muitas foram as missões desempenhadas pela Marinha do Brasil, através da Força Naval do Nordeste e da Força Naval do Sul, instituídas respectivamente em outubro de 1942 e abril de 1944. Dentre elas, citamos a escolta aos comboios de mercantes, o patrulhamento marítimo, a proteção dos cabos submarinos, a destruição de minas, o suprimento das ilhas e bases, o resgate de náufragos, além da defesa de portos e outros pontos estratégicos. Também faziam parte das suas ações as chamadas escoltas especiais, incluindo a proteção dos Soldados da Borracha à Amazônia e dos escalões da Força Expedicionária Brasileira que seguiram para a Itália.

Concluída a luta de seis anos, alguns números tratam de expor uma pequena amostragem do que foi a nossa participação naval no maior conflito da história da humanidade. Em sua guerra discreta e basicamente defensiva, coube à Marinha do Brasil escoltar 575 comboios, estes com 3.164 navios e mais de 16 milhões de toneladas brutas. Somente nos comboios, nossas belonaves percorreram cerca de 600 mil milhas náuticas, sendo perdidos apenas três navios sob a nossa escolta, representando ínfimos 0,09% do total. Embora relativamente modesta, uma campanha eficiente e que recebeu o reconhecimento dos nossos aliados do Norte.

O preço pago por tão significativos resultados, contudo, foi bem maior do que se gostaria. Das 486 perdas navais que tivemos, 132 relacionam-se aos naufrágios do navio auxiliar Vital de Oliveira e da corveta Camaquã, registrados em julho de 1944. As 332 mortes do cruzador Bahia, porém, ocorridas no ano seguinte, talvez tenham sido as que mais chocaram a Pátria agradecida.

Fonte: Contratorpedeiro de Escolta Bracuí – Be 3, ex-USS Reybold – DE 177
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